Hoje vou começar no blog uma sessão de Livros Proibidos, uns pela justiça, outros pela moralidade da época, mas que eu acho interessante {alias adoro a palavra proibido 😈} e que me ajudaram a me descobrir como pessoa ou/e como mulher, achar eles digitalizados não é fácil, mas tentarei... Então vamos ao que interessa.
Vou começar nada mais, nada menos do que um livro do D. H. Lawrence. O lorde inglês que chocou o mundo com sua deusa-cadela em 1928. Quando a aristocracia copulava pelos cantos dos castelos da época (porque ninguém era bobo naquela época – vide Marquês de Sade), o romance erótico (meu estilo preferido de literatura) era proibido na Inglaterra.
O Amante de Lady Chatterley conta a história da jovem Constance que casou-se com Clifford, um conservador, com quem mantinha um relacionamento sexual extremamente insatisfatório. Isso pouco durou, pois Clifford foi para a guerra e voltou aleijado. Lady Chatterley busca então alguém para satisfazê-la e, pobre coitada, acaba se envolvendo com um escritor que sofre de ejaculação precoce. D. H. Lawrence, depois de desgraçar triplamente a pobre coitada, coloca em seu caminho Mellors, um guarda da propriedade de seu marido. Eles se apaixonam e ela acaba por conhecer as delícias do sexo como uma deusa cadela em constante cio.
Gostei do livro porque D. H. Lawrence constrói um perfil de mulher fora dos padrões da época. Constance é uma personagem complexa porque vive a liberdade da vivência dos sentidos, vive e convive com as regras sociais/conjugais muito rígidas, e vive a dinâmica do desequilíbrio de sua realidade quando diante da prática do amor sensual desreprimido. Desde jovem assume o gerenciamento do seu corpo e mente. Sua família é liberal e esclarecida. Entremeando estas 'vivências', há amores com nuances decepcionantes, repressoras, indignantes, trágicas, mágicas e altamente sensuais. Constante não aceita constâncias e está sempre analisando seu corpo, suas sensações e as posturas alheias diante da sexualidade. Seu psiquismo acalenta o encontro com a felicidade e a tranquilidade da liberdade de amar, de 'dar' o corpo sem cortes exteriores, a alguém que ame, independente da sua condição social. Dona de uma renda volumosa, Constance quer o gozo intenso no corpo e do sexo. Suas relações são intensas, inteligentes e críticas. Talvez encontrasse todo o ardor do amor carnal com Clifford, seu marido, mas este, atingido pela guerra na flor da idade, é impedido de procriar, fato que transforma o casamento num jogo de ideias e intenções. E diante apenas da ideia, do imaginário, ambos se afastam gradualmente e reconhecem este movimento em diferentes incidentes. Ideias, intenções, companheirismo, bem-estar não são amarras suficientes para diminuir a excitação de Constance diante a volúpia da paixão. Ainda assim Constante aceita sua anulação, por um tempo.
O leitor acompanha todos os percalços de sua tentativa de se entender como mulher para enfim poder, realmente, se olhar como esposa de alguém. No meio disso tudo, uma grande crítica à industrialização e à crescente desvalorização do homem diante do desenvolvimento (e forte uso) da máquina. Também é possível observar críticas às diferenças sociais em completa decadência (perda dos status) e um alerta às mudanças de comportamentos entre as classes 'dominantes' e 'dominada'. Mas o que mais chamou/chama a atenção ontem e hoje, é a preocupação pelo desejo físico e a descrição desinibidora do ato sexual. O ato sexual apresentado de diferentes formas é uma forma de catarse, e não apenas uma consumação previsível APENAS entre um 'casal-casado'. Medo, timidez, inibição, repressão são depuradas pelo autor. Mellors traz o esclarecimento do espírito desejante de Constance. Ambos vivem momentos cuja palavra 'VERGONHA' não se sustenta como possibilidade, nem para a construção da personagem, nem como alinhavo do enredo. Após cada encontro carnal, mudanças nas relações familiares. É o conflito entre a imperiosa exigência do sexo e a serenidade do amor. É um desfraldar de véus internos para que emerja um SER quase purificado. Cada ato sexual entre Constance e Mellors atinge subjetiva e diretamente os personagens e suas reações dependerão de seus status social ou familiar.
Por ser considerado obsceno para época, o livro não pôde ser chamado de 'TERNURA' como desejava o autor. Diante da negativa de diversos autores de publicá-lo, Lawrence assumiu o risco e a bancou do próprio bolso. Foi atacado, censurado, proibido e condenado. O livro apresenta TEMAS bem interessantes também para os dias de hoje como os efeitos da debilidade física, da impotência psíquica, da desigualdade social, da moralidade hipócrita, da eloquência vazia e inibidora, das emoções reprimidas, do casamento sem virilidade etc. Lawrence demonstra no psiquismo mutante dos personagens e em cada ato sexual realizado, a realidade de um tempo cujas descrições suprimiam o prazer como fonte de beleza, transformação e liberdade.
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