“E
ambos estavam nus, o homem e a sua mulher; e não se envergonhavam.” (Gênesis
2:25)
Esse é um dos versículos mais ousados da Bíblia e talvez um dos mais esquecidos quando falamos de espiritualidade. O retrato original da humanidade não é um casal de joelhos em oração, mas um casal nu, sem vergonha e em plena comunhão.
A nudez no Éden não era apenas física, mas também emocional e espiritual. Adão e Eva estavam expostos, vulneráveis, sem máscaras, sem medo do olhar do outro. Essa é a pureza que Deus desenhou: intimidade sem barreiras.
Onde entrou a vergonha?
Logo
após o pecado, lemos:
“Então
foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; coseram folhas
de figueira, e fizeram para si aventais.” (Gênesis 3:7)
O pecado não trouxe a nudez (ela já existia), mas trouxe a vergonha da nudez. O que antes era comunhão virou medo. O corpo, antes celebrado, passou a ser escondido.
Esse mesmo padrão se repetiu na história da igreja. O monasticismo medieval e a teologia de Agostinho reforçaram a ideia de que o sexo era tolerado apenas para procriação, para conter a luxuria desacerbada, então prazer seria algo suspeito, quase pecaminoso. Resultado? Séculos de cristãos que, mesmo casados, viveram a intimidade debaixo de culpa e repressão.
Em Cristo, o Éden começa a ser restaurado
A boa
notícia é que a cruz não apenas redime a alma, mas também reconcilia o corpo.
Paulo escreve:
“Agora,
pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.” (Romanos
8:1)
Isso significa que a culpa não tem mais autoridade, nem sobre a espiritualidade, nem sobre a sexualidade. Dentro da aliança, marido e mulher podem viver a nudez sem vergonha, sem medo, sem condenação.
John Piper chama o sexo conjugal de “parábola viva do evangelho”. É uma forma de anunciar com o corpo a reconciliação: entrega sem reservas, prazer sem culpa, nudez sem vergonha.
No livro This Momentary Marriage, Piper defende que o casamento é uma parábola da aliança entre Cristo e a Igreja (Efésios 5:31-32). Essa visão não é novidade, Paulo já tinha feito essa conexão, mas Piper vai além e mostra como o sexo dentro do casamento também participa dessa parábola.
Ele
escreve que o ato sexual é uma linguagem física do pacto. Quando marido e
mulher se entregam de corpo, estão encenando - de forma concreta - o que Cristo
fez espiritualmente:
Entrega
total (como Cristo se entregou à Igreja);
Prazer
mútuo (como a alegria de Cristo em salvar e a alegria da Igreja em ser salva);
Fidelidade
exclusiva (como a aliança eterna que Cristo não rompe com Sua noiva).
Ou seja, sexo não é apenas alívio biológico.
Piper conecta Hebreus 13:4, à ideia de que o leito matrimonial é um altar de adoração.
Isso significa que:
Cada
vez que marido e mulher se unem, não é só prazer humano, mas adoração oferecida
a Deus.
O orgasmo conjugal é, nas palavras dele, uma “explosão de alegria que aponta para a satisfação eterna em Cristo”.
A nudez sem vergonha é uma antecipação da comunhão plena que teremos com Deus, sem barreiras, sem medo, sem culpa.
Sexo como discipulado - Casais aprendem sobre Deus na intimidade: vulnerabilidade, serviço, amor sacrificial.
Orgasmo como metáfora escatológica – O clímax conjugal lembra a promessa de uma alegria futura muito maior: a festa das bodas do Cordeiro (Ap 19:7).
Prazer como missão – Buscar o prazer do cônjuge é imitar Cristo, que não buscou o que era Seu, mas entregou-se pelo outro (Fp 2:4-5).
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